quarta-feira, 10 de março de 2010

Opinião

Vergonha de ser honesto

À meia tarde da última sexta-feira de Fevereiro, recebemos uma das notícias mais desagradáveis de que nos recordamos.
Alguém nos deu conta de que um amigo nosso havia posto fim à própria vida.
Drástica e terrível notícia. Estava consumado um acto impensável
Nada havia a fazer. Tudo estava feito e se gravava no sentimento de todos quantos conheceram o Homem, o Amigo e o Companheiro Almiro Bento.
O “ti” Almiro havia dado por terminada a sua vida terrena.
Nascido de família humilde, o ”Ti” Almiro foi criado, desde tenra idade, no pequenino lugar do Sobral-Penela..
Dali foi aprender o ofício de serralheiro em Chão de Couce.
Mais tarde, ainda muito jovem, emigrou para Moçambique.
E foi na antiga “colónia” portuguesa que “fez a tropa”, assim nos contava.
Ainda em Moçambique, onde permaneceu, encetava a sua vida de empresário no ramo de “serralharia”. Fez-se um empresário de sucesso. Ergueu o seu “império”.
Mas, a sorte não o acompanhou e, por problemas que não foram seus, acabaria por perder tudo o que realizara..
O destino (ou os “homens”), aplicou-lhe a primeira partida.
Forçado a abandonar Moçambique e tudo o que ali conseguiu, o “ti” Almiro tentou enfrentar uma nova fase da sua vida, agora na África do Sul.
Novo desafio. Outro país, outra língua e tantas outras adversidades que teria que ultrapassar.
Mas, Homem de fibra e empreendedor, reergueu-se. Alcançou novamente o sucesso.
Alguns anos depois resolveu voltar à sua terra. E voltou, ao que sabemos, relativamente bem na vida.
Uma vez em Portugal e na sua terra, construiu tudo de novo e voltou a sentir-se realizado.
Enfrentou problemas de saúde mas, recuperado, tudo parecia correr bem.
Então o que se teria passado? Que motivos teria para tão drástico procedimento?
A tão proclamada crise mundial? Não acreditamos.
Acreditamos mais em crise de valores. Esses valores essenciais e que não se respeitam mais no mundo de hoje.
O golpe dos “predadores”. A presença daquele “inqualificável” ser que torna difícil a vida do homem honesto. Os “homens” (???) que se exibem e nos cumprimentam com o “chapéu” dos outros.
A ausência de valores morais e éticos.
Volto a lembrar Rui Barbosa: “...de tanto ver crescer as injustiças, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos homens, o Homem chega a desanimar-se, a rir-se da honra e a ter vergonha de ser honesto”.
Não somos donos da verdade. Mas algo nos diz que só assim se justifica tal decisão do Homem que conhecemos.
“Ti” Almiro… descanse em paz.

Adriano Júlio

Sem comentários: