quarta-feira, 8 de julho de 2009

Editorial

O primeiro passo…

Têm uma justificação as frequentes referências a questões políticas (aqui e ali partidárias): não nos revemos no país em que Portugal se tornou, 35 anos após o 25 de Abril. A esperança trazida pela “Revolução do Cravos”, que o povo cantou e festejou nas ruas, depressa se esfumou e deu lugar ao sentimento de que aí vinha “mais do mesmo”. Pode parecer um discurso revanchista e despropositado, e sê-lo-ia certamente sem uma ressalva aos bens preciosos que são a liberdade e a democracia e às “coisas” boas que trouxeram ao pós 25 do 4, como o progresso, o desenvolvimento, o conhecimento, a liberdade de expressão, entre muitas outras. Mas…
Como alguém dizia, a democracia é o melhor sistema que existe mas não é perfeito. Pois não! E aí estão de novo as desigualdades, as injustiças sociais, o desemprego, a corrupção, o clientelismo… Aí estão os senhores poderosos, antes chamados de monopolistas… Aí estão os grandes banqueiros e o poderio que detêm sobre os cidadãos, alguns “presos” aos Bancos por toda uma vida… Aí estão a corrupção e os crimes fiscais, agora com mais visibilidade, mas aparentemente com a mesma impunidade de outros tempos… Aí estão os salários e reformas de miséria para uns e, em contraponto, faustosos e milionários para outros, poucos, em alguns casos depois de “comissões” de serviço de poucos meses ou anos…
Não nos revemos no Portugal do desemprego, que se eleva a mais de dez por cento dos portugueses… Não nos revemos no Portugal onde morrem pessoas à espera de uma simples operação… Não nos revemos no Portugal onde milhares de idosos pouco mais têm que para comprar os medicamentos que lhes são prescritos… Não nos revemos, em suma, e repetindo, no país em que Portugal se tornou, injusto, desigual, desorganizado. O leitor revê-se? Aqueles que nos acusam de sectarismo revêem-se? Os políticos revêem-se? Há aquela velha máxima que diz que não podemos mudar o mundo… Pois não… Mas os políticos podem! E devem! É hora de o fazerem, cumprindo a missão para que são eleitos…

Vamos aprendendo, com o passar dos anos (há quem lhe chame experiência ou maturidade) a “separar o trigo do joio”. E também neste caso há que fazê-lo, não caindo na perigosa tentação de colocar todos no mesmo “saco”. Há muitos que não merecem estar no tal “saco” onde outros, há muito, deviam estar. Atentemos nas autarquias, por exemplo, onde há de facto excelentes exemplos de boa política e de como ela deve servir verdadeiramente as pessoas e as populações. Tendo em conta a proximidade, as Câmaras e as Juntas devem “deitar a mão”, e muitas fazem-no, a situações graves que os tempos difíceis vão agudizando e trazendo à liça. Fome, solidão, falta de cuidados médicos e de higiene, desespero… Tudo isto existe em Portugal e devia ser combatido por quem abraçou a política, mas depressa esqueceu os valores e objectivos nobres que ela defende (ou devia defender).

Portugal volta a votos nos próximos dias 27 de Setembro (Legislativas) e 11 de Outubro (Autárquicas). Trata-se sem dúvida de mais uma excelente oportunidade para os políticos ganharem a credibilidade perdida junto dos cidadãos (ressalve-se que há os que a mantêm). Não basta dizerem que é preciso que o povo vote; é preciso que demonstrem que vale a pena fazê-lo. Esperam-se, e desejam-se, campanhas positivas e ao longo das quais se discutam os verdadeiros problemas do país e não as “politiquices”, com gestos mais ou menos provocatórios, e que só lançam a confusão em vez de informarem as pessoas e, sobretudo, de lhes devolverem a esperança que se vai perdendo. Tal como frisou o Senhor Presidente da República no discurso de 10 de Junho, é uma tarefa de todos fazer um Portugal melhor. Os políticos não querem fazer o favor de darem o primeiro passo?


António José Ferreira

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