“Penela é uma
autêntica joia onde predomina a beleza e se sente a virtude e a afabilidade
amiga das suas gentes”. Esta frase é do Cónego Adriano Santo, que vai ser alvo
de uma justa homenagem, em Penela, no próximo dia 08 de junho. Conheça melhor
um pouco da sua vida obra
Vítor
Simões
Escrever
sobre o Padre Adriano Simões Santo não é tarefa fácil. Foi necessário ler
dezenas de apontamentos e dezenas de jornais sobre o que escreveu e defendeu
durante a sua vida, que já leva 87 anos de atividade sempre em prol dos outros.
O
Padre Adriano Simões Santo nasceu a 17 de Janeiro de 1926, no lugar das
Lameiras, freguesia de Chão de Couce, concelho de Ansião. Filho do Sr. Alberto
Simões Santo e da Senhora Dona Maria Emília. É irmão dos senhores Francisco e
Américo Simões Santo.
Frequentou
a escola Primária em Pedra do Ouro, tendo sido sua professora Esmeralda
Pereira. Na escola primária foi nomeado tesoureiro e teve ao seu cargo o
peditório para a compra de um crucifixo para a escola. Quando ainda criança,
gostava de ser “chofer”, conduzir um camião e pintor - a sua professora uma vez
corrigiu a caricatura que tinha feito do Dr. Salazar.
Foi
precisamente a sua professora primária que o estimulou a ir para o Seminário,
com o apoio dos pais e irmãos, e no fim do exame da 3.ª Classe, em 1938, lá foi
para o Seminário a pagar 300$00 escudos por ano.
Em
junho de 1950 concluiu com elevada classificação o seu Curso no Seminário,
tendo sido ordenado Sacerdote no dia 13 de agosto de 1950, pelo Bispo de
Coimbra D. Ernesto Sena de Oliveira, na Sé Nova, em Coimbra.
Celebrou
a Missa Nova, na Igreja Matriz de Chão de Couce a 15 de agosto de 1950, sua
terra natal. De dezembro de 1950 a janeiro de 1952, foi Coadjutor na Paróquia
de Santa Cruz, em Coimbra.
O
Bispo de Coimbra nomeou-o, em junho de 1952, Pároco de Vila Verde na Figueira
da Foz e professor no Seminário da Figueira, tendo sido aí professor de
Francês, Português e Religião. Segundo sabemos ia para as aulas de Religião
carregado de jornais. Cabe aqui fazer referência que foi professor de D. Manuel
Pelino, Bispo de Santarém, e do Padre Ventura Pinho, Pároco de Ansião. Foi
também Perfeito do Seminário da Figueira da Foz.
Em
Vila Verde, onde esteve durante sete anos, contactou com o mundo operário, que
lhe deu gratas recordações como padre, e na vertente da Ação Social, com a
construção de um Bairro em Vila Verde.
Como
tem o “vício” do jornalismo e de escrever, fundou em Vila Verde, em janeiro de
1953, a “Voz de Vila Verde”, que teve 83 números editados ate novembro de
1959.
A sua
veia jornalística despertou muito cedo. Em sua casa lia jornais do seu pai e
como seminarista escreveu para “Correio de Coimbra” e “Mensageiro de Leiria”,
entre outros. O primeiro artigo que escreveu foi no “Ação Missionário”, dos
Padres do Espírito Santo. E durante a sua permanência em Santa Cruz, Coimbra,
escreveu alguns artigos para o jornal “Despertar”.
Em novembro
de 1959, D. Ernesto Sena de Oliveira nomeou-o Pároco de São Miguel e Santa
Eufémia, de Penela, onde também exerceu as funções de Arcipreste. Esteve em
Penela até outubro de 1966.
Tempos
difíceis vividos por terras de Penela, mas aqui desenvolveu uma vez mais os
seus ideais: estar com o povo e servi-lo. Aqui, uma vez mais, a sua veia
jornalística imperou. Em janeiro de 1960 fundou o jornal “Voz de Penela”, sendo
seu diretor, redator, jornalista, administrador, mas com o decorrer do tempo
foi tendo uma mão cheia de colaboradores, jovens de Penela, que tinham colunas
específicas: Henrique Pereira Dias dos Reis, Fernando Filipe, Rui Simões, Jorge
Costa, Arménio Firmino, Dr. Manuel Augusto Rodrigues, Prof. Carlos Braga, entre
outros. A “Voz de Penela” continuou, depois de ter deixado Penela, mas já não
foi o mesmo jornal. Com muitos percalços, ainda resistiu até novembro de 1973.
È de
realçar que a “Voz de Penela” era lida em todo o mundo. Europa, África, Américas,
Ásia e até teve um correspondente oficial no Brasil, o nosso amigo Adriano
Júlio. Era muitas vezes referenciada pela imprensa escrita e radiofónica e no
Brasil o prestigiado jornal “O Globo” escreveu numa das suas edições: “O jornal do Padre-Santo”. “Há na vila de
Penela um jornal intitulado “Voz de Penela”. Dirige-o devotamente o padre
Adriano Simões Santo. Penela pode orgulhar-se de ser, no mundo, a única terra
que tem um jornal dirigido pelo Padre-Santo”.
Um
orgulho para o concelho de Penela.
Mas a
sua passagem por Penela deixou mais marcas. Realizou obras de vulto nas duas
igrejas de Penela, com muitas ações, cortejos de oferendas, campanhas do “ovo”,
campanhas para os órgãos e aparelhagens para as igrejas. As festas, Semana
Santa, Corpo de Deus, dos Padroeiros das Igrejas, as festas das Comunhões e as
suas preparações, o reativar da Festa de Nossa Senhora da Nazaré, a sua
participação na vida cívica, pois não faltava a nenhuma ação realizada pelo
município ou visita ministerial nas suas freguesias - e nesse tempo eram muito
frequentes. Deu sempre bastante apoio às causas da sociedade, como campanhas
desenvolvidas para as vítimas do terrorismo ou apoio aos militares do Ultramar.
Junto dos jovens tinha uma ação cativante, grandes encontros com as crianças da
catequese e com os mais velhos, apoiou desde a primeira hora a equipa de
futebol “Grupo Nun’Alvares”, constituída por Virgílio Simões, Carlos Ferrão,
Júlio Dinis, Fernando Júlio, José Ferrão, Palrinhas, Firmino, Arménio, Fernando
Silva, Costa, Salazar, Abílio, Augusto, Fonseca, Alfredo, Pinto e outros, pois
era o primeiro no apoio que era necessário para que os rapazes de Penela
pudessem jogar à bola, conciliando as vertentes religiosas e lúdicas. Também na
vertente social tinha uma especial dedicação, nomeadamente no que respeita aos
mais pobres e necessitados das suas paróquias. Com o apoio, por exemplo, do Sr.
Conde Fijô realizou obras numa casa para alojar uma família pobre no lugar das
Fórneas e apoiou várias ações para a cantina
escolar, conferência de São Vicente Paulo e muito mais nesta vertente de apoio
aos mais necessitados. Apoiou também as peregrinações e os passeios das
crianças da catequese e seus familiares.
No que
diz respeito aos lugares das duas freguesias realizou inúmeras obras nas capelas,
em conjunto com as respetivas comissões de capela, realizou inúmeras catequeses
nas capelas, permaneceu dias junto dessas comunidades para assim conhecer
melhor as suas “ovelhas”.
Muitos
dos seus amigos Penelenses já não se encontram entre os vivos, mas cabe lembrar
aqui alguns: João Rodrigues Neto, Manuel Palrinhas, Rui Niza, Francisco Rafael,
Coronel Reis, Manuel do Nascimento, José Freire dos Reis (pai), Padre Brásio,
Prof. Salvador Dias Arnaut, Prof. Armando Luís, Afonso Costa Simões, Eng. Augusto
Correia, Dr. David Júlio, Conde Fijô, Laurentino Pacheco, Monsenhor Palrinhas,
Mário Francisco, Manuel Brásio, Júlio Simões, Augusto Júlio, Manuel Filipe,
Moisés Dias dos Reis, Manuel Pereira Vaz e muitos outros. Sempre colaborou com
os colegas vizinhos, estando sempre disponível.
Consultando
os registos paroquiais durante o tempo que esteve nestas duas freguesias, é com
consolo que se verifica que realizou mais de duzentos matrimónios (também
realizou alguns matrimónios de paroquianos em outros locais, como sendo em
Coimbra), mais de quinhentos batismos, umas dezenas de cerimónias fúnebres,
centenas de celebrações nas duas freguesias e centenas de primeiras comunhões.
Foi
nomeado Pároco de Podentes em 17 de outubro de 1965 e como o trabalho aumentava
e o território também, foi concedido um Coadjutor, Padre Carlos Augusto
Rodrigues, que esteve até novembro de 1966.
A sua
passagem por Penela terminou em outubro de 1966, para tristeza de muitos.
Mas
continuando o seu percurso sacerdotal, o senhor Bispo de Coimbra nomeou-o em novembro
de 1966 pároco de Chão de Couce e mais tarde pároco de Pousaflores.
Por
estas paragens, como não podia deixar de ser, fundou em 1967 o jornal “Voz das
Cinco Vilas”, que foi editado durante nove anos. No campo das obras ampliou o
Salão Paroquial de Chão de Couce, que mais tarde passou a ser uma IPSS, com uma
nova designação – Centro de Bem-Estar Social de Chão de Couce.
Em
1983, o Bispo de Coimbra, João Alves, nomeou-o Vigário Episcopal da Região
Pastoral Sul, cargo que desempenhou durante 10 anos. Foi neste período que, uma
vez mais, “arregaçou as mangas” e com a sua ação construiu o Centro Pastoral da
Região Sul da Diocese de Coimbra, em Chão de Couce, tendo tido a colaboração da
Diocese mas também se deslocou à Venezuela e ao Brasil para aí contactar com os
muitos emigrantes para esta causa. Foi inaugurado a 30 de abril de 1988 e tem
como objetivo centrar muitas das atividades e reuniões nesta zona Sul da
Diocese. Em Chão de Couce também esteve ligado á construção do jardim de infância
e mais tarde, com o apoio do seu irmão Américo, foi construído todo o complexo
de apoio á terceira idade, que é a Fundação Dona Fernanda Marques, em Chão de
Couce.
Em 1996
deixou as funções que tinha em Chão de Couce e passou a exercer o importante
cargo de Ecónomo da Diocese de Coimbra, que assumiu durante 16 anos, mas nunca
deixou de paroquiar, pois aos fins de semana ia a várias paróquias.
Nos jornais da
Diocese de Coimbra, o "Correio de Coimbra" contou, ao longo de muitos
anos, com a sua colaboração assídua, quer na administração, quer na chefia de redação.
No “Amigo do Povo” foi diretor durante quase 27 anos e administrador 32 anos. E
não se pense que o seu trabalho foi fácil. Sobretudo o período da revolução de abril
de 1974 deixou-lhe marcas que nunca vai esquecer. Foi das cerca de
400 crónicas que selecionou 200 para um livro que publicou, “Do meu Cantinho”, que
teve o prefácio do Bispo D. Manuel Almeida Trindade.
Em 1999, D. João
Alves reconheceu as capacidades de inteligência e de trabalho do padre Adriano
Santo e nomeou-o Cónego para o Cabido da Sé Catedral de Coimbra.
A Associação de
Imprensa de Inspiração Cristã (AIC), na sua reunião em Fátima, de 4 de abril de
2008, decidiu fazer uma homenagem ao Padre Adriano no Congresso da AIC, que se
realizou em Bragança nos dias 27, 28 e 29 de novembro 2008.
No passado dia 28
de janeiro de 2013 foi homenageado pelo Rotary Club de Ansião, com o título
rotário de “Profissional de Mérito”, pelo trabalho que desenvolveu na imprensa
escrita.
Os dois momentos
mais marcantes da sua vida foram a sua Ordenação Sacerdotal, que já conta com
62 anos de atividade, e a inauguração do Centro Pastoral.
Hoje vai ajudando
a instituição Dona Fernanda Marques e, dentro das suas possibilidades, colabora
com os colegas da região.
É um amigo de
Penela. Nunca esqueceu Penela e as suas gentes e por isso é mais do que
merecida a homenagem que o nosso Jornal vai realizar no próximo dia 8 de junho,
com um grande almoço em Penela. Um dia disse: “Penela é uma autêntica joia onde
predomina a beleza e se sente a virtude e a afabilidade amiga das suas gentes”.
Muito haverá para
escrever sobre o Cónego Adriano Simões Santo. A sua personalidade, desde muito
cedo deixou transparecer ser uma pessoa bondosa e extremamente compreensiva em
relação a todas as pessoas com quem se relaciona. Nas diversas funções que
assumiu nas paróquias e na diocese de Coimbra, evidenciou sempre excelentes
qualidades, homem benemérito e amigo dos que mais sofrem e acima de tudo um
eficaz comunicador e um Homem de FÉ.
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