quarta-feira, 21 de abril de 2010

Editorial

Recordarei sempre o seu exemplo…

Foi com enorme satisfação que recebeu o primeiro Região do Castelo. Folheou-o, orgulhoso, de uma ponta a outra. Assim acontecia com todas as edições. Lia, relia, descobria as gralhas. “Isto não pode ser. Tens que evitar estes erros”, dizia-me exigente quando esse reparo se justificava.
Lia tudo até que invariavelmente se detinha nos artigos da Dra. Palmira e do Sr. Adriano. Porque trazem à liça valores e sentimentos que ele também partilhava. “Gostava de conhecer este Senhor”, dizia-me várias vezes indicando a foto do Sr. Adriano. As pernas, no entanto, traíam-no e faziam-no declinar a possibilidade de visitar Penela, que tão bem conhecia. Gostava de estar no seu sofá, a ler e a ver televisão, na companhia da sua Amélia, companheira de 55 anos. Era um homem bom, muito generoso, com refinado sentido de humor, mas também, aqui e ali, “rezingão” e inconformado. Muitas vezes ia dar com ele a reclamar, ou com as lágrimas nos olhos e a voz embargada, quando ouvia nas notícias algumas das injustiças que grassam pelo nosso país. É um legado…
As paragens forçadas do Região do Castelo, no ano passado, deixaram-no triste e preocupado. Mas sempre com uma palavra de incentivo para que não ficasse por ali. E foi com redobrada satisfação que voltou a lê-lo e relê-lo, com aquele brilho nos olhos, e a descobrir nele pessoas e lugares que lhe traziam à memória momentos fantásticos passados na Penela de outros tempos, que percorreu de lés-a-lés com Amigos que amiúde recordava.
Ultimamente lia menos e com menor atenção. O peso dos seus 83 anos assim ditava. Mas era frequente pegar no jornal, folheá-lo, ver como estava. “Esta edição está boa, muito boa”, dizia-me com satisfação.
Recordarei sempre os seus incentivos. Recordarei sempre o seu exemplo. Sempre! E continuarei a imaginá-lo a folhear o nosso jornal ou a passear com ele debaixo do braço, na Baixa coimbrã de que tanto gostava, rodeado de Amigos: “É o Região do Castelo, o jornal do meu rapaz”.
Adeus Pai. E obrigado!

António José Ferreira

1 comentário:

DOM RAFAEL O CASTELÃO disse...

Associo-me sua dor perda seu pai.
Apresento sentidos pêsames.