terça-feira, 8 de maio de 2012

Editorial


É impossível não concordar…

Como era esperado, o discurso de António Arnaut foi o momento alto do Almoço de Homenagem realizado no passado dia 21 de abril. Tirando a reflexão ideológica de mais estado ou menos estado, que continua a dividir a esquerda e a direita, é impossível não concordar com as contundentes palavras do Dr. António Arnaut – e injusto não enaltecer o facto de continuar a resistir e a lutar, ao contrário de tantos outros que, com o tempo, se foram passando para o lado do “sistema”. É impossível não concordar que há “injustiças evitáveis, desigualdades gritantes, corrupção à solta e especuladores impunes”; é impossível não concordar que “Portugal está capturado por grandes e pequenos interesses e a caminhar insensatamente para o precipício”; é impossível não concordar que “precisamos de mais seriedade política”; é impossível não concordar que “há desânimo, medo e fome no rosto amargurado de muitos portugueses”; é impossível não concordar que “é preciso fazer brilhar o Sol com que se escreve a palavra solidariedade”.
Estamos certos que, à esquerda ou à direita, qualquer político que “sente e não mente” concordará que Portugal deve urgentemente encontrar um novo rumo, mais justo e solidário. Porque não o faz então? Porque persistem as injustiças e as desigualdades? Porque há cada vez menos ricos e cada vez mais pobres? Porquê? Aparentemente porque os partidos e as pessoas que os integram se transfiguram quando passam da oposição ao poder. Acontece com uns; acontece com outros. Aconteceu com o Partido Socialista de José Sócrates (quem não se lembra dos 150 mil empregos?); acontece agora com o Partido Social Democrata de Pedro Passos Coelho (quem não se lembra das propostas de solução dos problemas que apresentou na campanha e pré-campanha?).
Ouvimos, na SIC Notícias, a entrevista concedida pelo Ministro das Finanças a Nuno Rogeiro e Martim Cabral. Não se duvida da preparação e dos conhecimentos técnicos de Vítor Gaspar. Mas ao ouvi-lo bater na tecla da austeridade surgem diversas questões: saberá que há pessoas? Saberá que há jovens com o futuro adiado? Saberá que há idosos com a vida perdida? Saberá que há (cada vez mais) portugueses sem emprego? Saberá que há pais sem pão para os filhos? Saberá que há portugueses a ficar sem lar? E mais: porque não demonstra Vítor Gaspar (e Pedro Passos Coelho) a mesma firmeza para com os poderosos do costume? Porque não põe os bancos “na ordem”? Porque não acaba com os escandalosos contratos das PPP? Porque não diminui as rendas empresariais?
A este propósito disse em entrevista ao Sol o presidente do Tribunal Constitucional, Rui Moura Ramos, que "os contratos em PPP e as rendas empresariais não são intocáveis, como não o foram os direitos individuais". Aguardemos…         

António José Ferreira

1 comentário:

Unknown disse...

Ninguém tem dúvidas que a austeridade é insuportável para uma grande parte da população. Todavia, donde virá o dinheiro para fazer políticas mais socialmente correctas? O Estado e os Municipios (tb Penela)gastaram tanto em investimentos prestigiantes(?) mas não-productivos que falta dinheiro. Podemos falir ou pedir dinheiro emprestado à Troika (claro, à condição de pôr as contas em ordem). Muitas outras saídas não existem.