É impossível não concordar…
Como era esperado, o discurso de António Arnaut foi o momento alto do
Almoço de Homenagem realizado no passado dia 21 de abril. Tirando a reflexão
ideológica de mais estado ou menos estado, que continua a dividir a esquerda e
a direita, é impossível não concordar com as contundentes palavras do Dr.
António Arnaut – e injusto não enaltecer o facto de continuar a resistir e a
lutar, ao contrário de tantos outros que, com o tempo, se foram passando para o
lado do “sistema”. É impossível não concordar que há “injustiças evitáveis, desigualdades gritantes,
corrupção à solta e especuladores impunes”; é impossível não concordar que “Portugal
está capturado por grandes e pequenos interesses e a caminhar insensatamente
para o precipício”; é impossível não concordar que “precisamos de mais
seriedade política”; é impossível não concordar que “há desânimo, medo e fome
no rosto amargurado de muitos portugueses”; é impossível não concordar que “é
preciso fazer brilhar o Sol com que se escreve a palavra solidariedade”.
Estamos certos
que, à esquerda ou à direita, qualquer político que “sente e não mente”
concordará que Portugal deve urgentemente encontrar um novo rumo, mais justo e
solidário. Porque não o faz então? Porque persistem as injustiças e as desigualdades?
Porque há cada vez menos ricos e cada vez mais pobres? Porquê? Aparentemente porque
os partidos e as pessoas que os integram se transfiguram quando passam da
oposição ao poder. Acontece com uns; acontece com outros. Aconteceu com o
Partido Socialista de José Sócrates (quem não se lembra dos 150 mil empregos?);
acontece agora com o Partido Social Democrata de Pedro Passos Coelho (quem não
se lembra das propostas de solução dos problemas que apresentou na campanha e pré-campanha?).
Ouvimos, na
SIC Notícias, a entrevista concedida pelo Ministro das Finanças a Nuno Rogeiro
e Martim Cabral. Não se duvida da preparação e dos conhecimentos técnicos de
Vítor Gaspar. Mas ao ouvi-lo bater na tecla da austeridade surgem diversas
questões: saberá que há pessoas? Saberá que há jovens com o futuro adiado?
Saberá que há idosos com a vida perdida? Saberá que há (cada vez mais)
portugueses sem emprego? Saberá que há pais sem pão para os filhos? Saberá que
há portugueses a ficar sem lar? E mais: porque não demonstra Vítor Gaspar (e
Pedro Passos Coelho) a mesma firmeza para com os poderosos do costume? Porque
não põe os bancos “na ordem”? Porque não acaba com os escandalosos contratos
das PPP? Porque não diminui as rendas empresariais?
A este
propósito disse em entrevista ao Sol o presidente do Tribunal Constitucional,
Rui Moura Ramos, que "os contratos em PPP e as rendas empresariais não são
intocáveis, como não o foram os direitos individuais". Aguardemos…
António José Ferreira
1 comentário:
Ninguém tem dúvidas que a austeridade é insuportável para uma grande parte da população. Todavia, donde virá o dinheiro para fazer políticas mais socialmente correctas? O Estado e os Municipios (tb Penela)gastaram tanto em investimentos prestigiantes(?) mas não-productivos que falta dinheiro. Podemos falir ou pedir dinheiro emprestado à Troika (claro, à condição de pôr as contas em ordem). Muitas outras saídas não existem.
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