terça-feira, 24 de abril de 2012

Discurso

O discurso do homenageado foi o momento alto do Almoço de Homenagem ao Dr. António Arnaut, realizado no passado sábado, em Penela. Aqui ficam algumas passagens:

"Estou muito agradecido a todos: aos obreiros do Jornal Região do Castelo, que tomaram a iniciativa deste convívio, à Câmara Municipal, que o patrocinou, e a todos vós, amigos, companheiros e camaradas, que vieram de perto ou de longe para me manifestarem a vossa estima e me oferecerem o ouro da vossa amizade."
"Foi pelo povo, personificado na gente da minha aldeia e da minha freguesia, e por solidariedade ao seu atávico sofrimento, que me lancei na empresa da criação do Serviço Nacional de Saúde e me tenho empenhado na sua defesa(...)"
"O que conta, verdadeiramente, quando já se vislumbra o fim da caminhada, é poder dizer-vos com total sinceridade, que tenho uma vida limpa e que, voluntariamente, nunca fiz mal a ninguém."
"Agi sempre de acordo com as minhas convicções: sou republicano, democrata, socialista e maçon, mas acima de tudo sou português e patriota."
"Aprendi com Miguel Torga e Fernando Vale que é muito alto o preço de ser livre, autêntico e solidário num tempo onde campeia o servilismo, a hipocrisia e o egoísmo."
"Ponderando estas circunstâncias e pensando que os meus pais, a quem devo o que sou, por me terem ensinado o valor da honra e o sentido do dever, haveriam de gostar deste convívio, acedi à generosa dos meus conterrâneos do concelho de Penela, donde me chamam as vozes avoengas do sangue e da saudade da infância."
"(...)porque há tantas injustiças, se algumas podiam facilmente ser evitadas ou atenuadas?"
"Portugal tem, reconhecidamente, dois milhões de pobres e outros dois milhões em risco de pobreza acelerada, e mais de um milhão de desempregados. Leio o desânimo, o medo e a fome no rosto amargurado de muitos com quem me cruzo na via dolorosa do quotidiano."
"Sou de esquerda porque é o lado do coração, e é ele que me dói diante de tantas injustiças evitáveis, de tantas desigualdades gritantes, de tanta corrupção à solta e de tanto especulador impune, a lembrar os vampiros de José Afonso. Dói-me a alma por ver esta velha nação, de quase nove séculos, submetida ao jugo dos agiotas nacionais e internacionais, capturada por grandes e pequenos interesses e a caminhar insensatamente para o precipício."
"É claro que há sempre a esperança de um novo 1.º de dezembro e de outro 5 de outubro, duas datas que a incultura de muitos quer banir do nosso calendário cívico."
"Não pode haver empresas onde administradores ganhem, ou melhor, recebam, 100 vezes mais do que muitos dos seus trabalhadores. É preciso caminhar para o 'humanismo económico', reconstruindo o Estado Social, pago por impostos progressivos e assente em quatro pilares: habitação, educação, saúde e segurança social."
"Não precisamos de mais austeridade. Precisamos de mais seriedade política."
"É claro que temos de pagar aos credores, embora, parafraseando Aristóteles, a dívida seja, quase sempre, resultado do roubo, porque decorrente da usura e do poder do dinheiro gerar sem investimento produtivo, nem trabalho."
"Não me resigno a tantas injustiças. Estou contra a corrente, porque é o dever de quem sente e não mente. Não são as reconhecidas dificuldades orçamentais, mas a agiotagem, o compadrio, a submissão aos grandes grupos económicos e a falta de sensibilidade social que põem em causa a sustentabilidade do SNS e demais conquistas de abril."
"É preciso romper o cerco e reabilitar a velha trilogia - Liberdade, Igualdade, Fraternidade. É preciso fazer brilhar o Sol com que se escreve a palavra solidariedade: libertar o étimo perdido, que é também a raiz moral das palavras esperança e justiça."

Reportagem na próxima edição do jornal Região do Castelo.

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