quarta-feira, 30 de junho de 2010

Editorial

Sem glória

A Selecção Nacional despediu-se do Mundial da África do Sul. Sem glória. Tirando os 7-0 com que brindou a Coreia do Norte, o grupo às ordens de Carlos Queiroz raramente encantou, que é o mesmo que dizer-se que pouco "jogou à bola". Sem surpresa. Há que analisar, reflectir e começar desde já a "arrumar a casa" para "atacar" o próximo Europeu, a disputar na Polónia e na Ucrânia. Sem Queiroz?
O seleccionador nacional, como responsável máximo pelo conjunto nacional, tem certamente "culpas no cartório" por (mais uma) modesta participação de Portugal num Mundial. Pelas escolhas dos jogadores, pelas substituições, pela forma como "montou" a equipa e pelas estratégias que definiu para cada embate. E pelo receio que demonstrou em determinados momentos, que não é consentâneo com a caminhada dura que sempre se depara a uma equipa campeã. Mas há outros "culpados"...
"Os jogadores portugueses devem jogar mais e falar menos". Palavras de Laurentino Dias, Secretário de Estado do Desporto, logo após as intempestivas palavras de Deco no final do jogo com a Costa do Marfim. "Nem vou responder para não ser indelicado", retorquiu o presidente da Federação Portuguesa de Futebol. O mesmo Gilberto Madail que, há uns anos, defendeu os seus "meninos" quando estes acabavam (literalmente) de partir um balneário, no final de um jogo que o seleccionado nacional de Juniores disputou em França. Estavam lá alguns dos jogadores que agora integram a principal equipa nacional, inclusive Cristiano Ronaldo, se a memória não nos atraiçoa.
Portugal será campeão do mundo, um dia, se trabalhar de outra forma. E se souber transmitir aos jogadores, por mais "craques" que sejam, que as palavras "humildade" e "sacrifício" fazem parte do dicionário dos grandes campeões. Um trabalho que se faz nas escolas, nos clubes (grandes e pequenos), nas selecções jovens...
Mas, tal como na política, também aqui se coloca a questão: esse trabalho, até aqui por realizar, faz-se com os protagonistas do costume? Ou chegou a altura de os "mesmos de sempre" darem lugar a outros?

António José Ferreira

1 comentário:

_ricards_ disse...

Era bom que alguns dirigentes soltassem a cadeira, porque parece que de tanto hábito já não sabem o que fazer na Selecção e portanto já não fazem mesmo nada. [Gestão corrente e protocolar qualquer um faz, direi eu.]
Relativamente ao seleccionador, manda-lo embora talvez não seja a decisão mais correcta. Eu dava-lhe a pasta de toda a formação, porque é disso que ele percebe e tem provas dadas. A selecção A ficava então para quem soubesse realmente orientar os "crescidos".
Com o Queiroz nas formação, talvez não tivéssemos que naturalizar brasileiros com 30 anos.
[O meu problema não é com os brasileiros particularmente. Eles estão na selecção do México, Japão, Alemanha, Estados Unidos, Espanha, Croácia, Turquia, ... Mas a Globalização não pode permitir nem justificar tudo. No Mundial de 2004, disputado em Taiwan, dos quatorze jogadores da selecção italiana de futsal, dez nasceram no Brasil. No Mundial de 2008, disputado no Brasil, todos os jogadores da Azzurra eram brasileiros naturalizados.]
Temos na Selecção, para além dos brasileiros, um canadiano, um venezuelano e dois cabo-verdianos. Quanto ao Rolando e ao Nani, que vivem em Portugal desde crianças, não me choca nada. Mas o Daniel Fernandes, por exemplo, de todos até tem o nome mais português, mas ainda jogou na Selecção sub-18 do Canadá e actualmente até podia defender as redes da República checa, nacionalidade da sua mãe.
Quanto aos jogadores com falta de humildade, o seleccionador tem que ter pulso forte e senta-los no banco de vez em quando.